quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Pink Floyd - Wish You Were Here
Agora, só ano que vem.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
LetrasUSP Download
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Imperdível: Criminologia Cultural e Rock
Mais informações aqui.
domingo, 13 de dezembro de 2009
O direito penal e as vítimas
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Lançamentos
- um, do Gabriel Divan, a ser lançado dia 12/12, em Porto Alegre;
- outro, do Alexandre Morais da Rosa e do Thiago Fabres de Carvalho, com lançamento marcado pra 16/12, em Floripa.
Livros que, por seus autores, dispensam apresentações. Leituras obrigatórias para o próximo ano!
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
domingo, 29 de novembro de 2009
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Unisul e dica de blog: Combe do Iommi
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Vida Nua
7. “O sistema penal a ser conhecido e estudado é uma realidade, e não aquela abstração dedutível das normas jurídicas que o delineiam.” (BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 5. Ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001, p. 25)
No espaço disponível abaixo, apresente a sua interpretação para a frase acima destacada.
VI Encontro Gaúcho de Ciências Criminais - UPF
domingo, 15 de novembro de 2009
Unisul - 20/11
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Lançamento livros: book's party!
IREI!
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Sobre vadiagem e prisão
sábado, 7 de novembro de 2009
II Conferência Internacional de Justiça Restaurativa - Prof. Dr. Ivo Aertsen
Prof. Dr. Ivo Aertsen
Aguardamos todas/os lá!!
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Claude Lévi-Strauss
Paris, 31/10/2009.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Debate - Passo Fundo - 05/11
Todas/os convidados/as!
Entrada franca.
II Conferência Internacional de Justiça Restaurativa - Prof. Dr. Ivo Aertsen
Prof. Dr. Ivo Aertsen
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Convite - 55ª Feira do Livro
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Recompensa II
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
A Crise e o Tempo Crítico
domingo, 18 de outubro de 2009
25 Anos do Código Penal e da Lei de Execução Penal - ESA - OAB/RS
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Convite - Lançamento do meu livro!
Segue abaixo o convite eletrônico, com informações de data, hora e local.
Achutti.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Recompensa...
domingo, 4 de outubro de 2009
O Não-Lugar da Minha Vida V
metamorfoseada:
que, como era de se esperar,
será sempre o meu lugar.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Conferências - Prof. Dr. Lode Walgrave - dia 29.09
por meio de parceria entre a Escola Superior de Advocacia da OAB/RS, a Comissão Especial de Mediação e Práticas Restaurativas da OAB/RS e o Instituto de Criminologia e Alteridade (ICA), divulgamos as conferências do Prof. Dr. Lode Walgrave (U.K.Leuven/Bélgica), que serão realizadas no auditório da nova sede da OAB/RS no dia 29/09, das 9h ás 12 e das 14h às 17h.
Inscrições e informações: vide folder.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
44ª Semana Acadêmica de Estudos Jurídicos e Sociais da UFPEL.
domingo, 20 de setembro de 2009
De faringites, desgostos e tradicionalismos.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
I Seminário Interdisciplinar de Justiça Restaurativa
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Sobre racionalismos, criminologias e dogmática penal.
"O próprio do acontecimento é que ele se dá de maneira inesperada, o que torna bem difícil sua percepção por uma lógica linear, a partir de um causalismo unívoco." MAFFESOLI, Michel. Elogio da Razão Sensível. RJ: Vozes, 1998, p. 57.
Essa frase resume bem o que atravessa, por enquanto, a temática central do meu paper da disciplina do Salo: ao buscar alguma ideia para discorrer sobre criminologia cultural, a pertinência da crítica de Maffesoli à razão abstrata que dominou a modernidade é um ponto absurdamente próximo àquele que, na criminologia, muito me interessa.
Em determinado momento de seu livro, o autor destaca algo que há muito eu gostaria de dizer mas que, no entanto, ainda não tinha me aventurado a tentar: "a representação foi, em todos os domínios, a palavra mágica da modernidade." (1998, p. 19)
Eis aí algo que me deu o que pensar: em termos de representação, a falência do atual modelo de justiça criminal estava desde o início decretada: local por excelência de puras, simples e alucinadas representações (pra lembrar um termo pandolfiano), em que o afastamento do não-racional é defendido a todo custo em nome de uma pretensa isenção metodológica, não haveria lugar para o imaginário, para o imprevisível, para a desordem e a efervescência, para uma "topografia da incerteza" ou para o trágico. Calcada em uma literatura com "tom de anteontem", nega justamente um aspecto inseparável do humano: a sua animalidade. Representado na figura bíblica da criação feita à imagem e semelhança de seu criador (Deus), o humano não teria permissão para não ser perfeito, dado que possui seu incontestável livre-arbítrio em perfeito estado e, uma vez que racional, poderia optar por não percorrer o trajeto criminoso.
A racionalidade abstrata que fundamenta e justifica o direito penal, hoje, é possível apenas desde uma criminologia que esteja arraigada, ainda, em pressupostos modernos (ou até mesmo em alguns ainda mais mofados): a partir da crença em um humano apto a discernir racional e conscientemente entre uma conduta lícita e outra ilícita, evidente que a causa do crime só pode estar no próprio criminoso, e em nenhum outro lugar: apesar das valiosas contribuições da criminologia da reação social, ainda não somos capazes de perceber o crime na sua inteireza e em toda a sua intensidade. Ao passo que nego a complexidade da vida e assumo a absoluta simplicidade ao falar de "conduta humana (racional e consciente) típica, ilícita e culpável", afasto a vida justamente naquilo que ela é: complexa, caótica, não-racional, inexplicável, trágica, humana...
Ao opor apresentação à representação, Maffesoli destaca que aquela "se contenta em deixar ser aquilo que é, e se empenha em fazer sobressair a riqueza, o dinamismo e a vitalidade deste 'mundo-aí'." (1988, p. 20) Para o autor, "a apresentação sublinha que não se pode jamais esvaziar totalmente um fenômeno, isto é, qualquer coisa de empírico, de empiricamente vivido, através de uma simples crítica racional." (p. 20) Tal "deixar-ser" não implicaria, segundo ele, em "um 'deixar-correr' intelectual. Pelo contrário, ela requer uma ascese, a de não se fazer o jogo do demiurgo que manipula, ao seu bel-prazer, aquilo que convida a ser visto, em favor daquilo que se desejaria que fosse." A apresentação seria, em síntese, "mais escrava do que senhora da realidade social ou natural" (p. 20), ou seja: saberia "integrar, em doses variáveis, o zelo estético no próprio seio da progressão intelectual." (p. 21)
Quem sabe assim possamos, mesmo que timidamente, começar a abandonar as malditas concepções positivistas para buscar não só uma outra linguagem, mas uma outra percepção das principais questões criminológicas...
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Melô da dogmática penal
Não Vou Me Adaptar
Titãs
Composição: Arnaldo Antunes
Nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais
A casa de alegria
Os anos se passaram
Enquanto eu dormia
E quem eu queria bem
Me esquecia...
Será que eu falei
O que ninguém ouvia?
Será que eu escutei
O que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar
Me adaptar...
Eu não tenho mais
A cara que eu tinha
No espelho essa cara
Não é minha
Mas é que quando
Eu me toquei
Achei tão estranho
A minha barba estava
Desse tamanho...
Será que eu falei
O que ninguém ouvia?
Será que eu escutei
O que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar
Me adaptar...
Não vou!
Me adaptar! Me adaptar!
Não vou! Me adaptar!
Não vou! Me adaptar!...
sábado, 29 de agosto de 2009
IBCCRIM e os seminários acadêmicos
Explico: são importantes e necessários, sem dúvida, pois disseminam, em uma sociedade em que o número de estudantes é cada vez maior, posições e opiniões de importantes pesquisadores e profissionais da área. E se no direito, como sabemos, o número de estudantes (do qual faço parte) e de faculdades chega a ser espantoso, como poderíamos ter acesso ao que andam pensando e estudando os nomes mais conhecidos da nossa área? Apesar de achar plenamente possível fazer despertar no aluno o interesse pela temática por outros meios, pergunto: melhor seria deixar de fazer o evento a fazê-lo nesse formato? Continuo achando, portanto, que os congressos "entra mudo - sai calado", apesar dos pesares, têm lá a sua importância...
No entanto, em termos acadêmicos, são eventos realmente limitados: além do painelista falar por pouco tempo (às vezes, atravessa um oceano inteiro pra falar por 45 minutos e ERA ISSO!), ele ainda não tem aquilo que considero o mais importante na academia: o contato com o pensamento alheio e a possibilidade de estabelecer um diálogo entre os participantes. Qual a graça de preparar uma apresentação sem ser questionado a respeito do que se está pensando/falando? Como podemos aprimorar as nossas ideias se não somos, literalmente, inquiridos pelos participantes?! Além disso - e de vários outros poréns - como podemos conhecer mais proximamente o que os outros pesquisadores e professores estão estudando se, quando temos a chance de encontrá-los, não nos é oportunizado o diálogo nas mesas de debate ou, ainda, um espaço específico para apresentação de trabalhos e pesquisas (como as humanas fazem há DÉCADAS)?!
Parece-me que, além de um forte evento de massa, a se realizar periodicamente (o do Ibccrim e o que tivemos na PUCRS semana passada são belos exemplos de eventos maiores), é indispensável estabelecer momentos acadêmicos de verdadeira troca de ideias e conhecimento, com número limitado de participantes (fazer o quê?!), apresentação de pesquisas, espaço para debates, publicação dos trabalhos (publicá-los em um site, por exemplo, sai praticamente de graça) e muitas outras atividades que possibilitam um maior contato com o trabalho alheio e os respectivos pesquisadores... O Salo já fala disso há bastante tempo, e pude presenciar evento (vide post anterior) em que ficou muito claro pra mim que necessitamos, com urgência, seguir os moldes, por exemplo, dos Seminários Abertos de Criminologia, do Doutorado do PPGCCrim (de iniciativa do próprio Salo), como tivemos no primeiro semestre desse ano - e que se repetirá, em breve, no Mestrado.
[Em setembro (dias 28 a 30), outro evento, específico sobre justiça restaurativa, será realizado na PUCRS (sala 1035, prédio 11) nos mesmos moldes dos Seminários Abertos. Desde já, sintam-se convidadas/os.]
Contudo, ainda assim vale a pena participar desses eventos maiores, mesmo que sem a possibilidade de um maior diálogo com os painelistas: Amilton Bueno de Carvalho, renovando algumas questões e reiterando outras, expôs muito bem a importância de não nos aquietarmos jamais diante das questões que nos incomodam, por mais que alguns ainda teimem em dizer que elas não ocorrem; e o Salo, que continua a nos desafiar a cada evento de que participa como palestrante, a nunca assistir a uma repetição de uma palestra sua! É engraçado isso, mas já devo ter assistido, por baixo, umas 1000 palestras, bancas e aulas do Salo, mas não me lembro de DUAS em que ele tenha dito a mesma coisa! Pode ser que em aula diga uma coisa e, num evento próximo, fale algo PARECIDO - o que, convenhamos, é NATURAL - mas nunca tem a fala igual! Além de grande parceiro e incentivador, de quebra ainda conseguiu tocar o terror em nós, juristas, para uma plateia repleta de... JURISTAS! Do caralho, Salo!!
Apesar das limitações (acadêmicas) do evento do Ibccrim, valeu a pena ter participado, pois além de ter conhecido e reencontrado grandes pessoas (Caio Cezar, Davi, Lili, Roberta e várias outras), ainda pude assistir à premiação da Raffa e algumas excelentes palestras. Além, é claro, de um grande evento que realizamos, por iniciativa própria, na quinta-feira à noite...
sábado, 15 de agosto de 2009
"More conciliation, less punishment: possibilities and obstacles for an extended use of Restorative Justice." A brief report (Oñati/09).
The workshop was organized by Hedda Giertsen and Kjersti Ericsson, from the Department of Criminology and Sociology of Law – University of Oslo, and there I’ve met people from Poland, Norway, Finland, The Netherlands, Albania, United States, Russia, England, Denmark, Sweden, Greenland and Belgium. I believe I was the only one from the south hemisphere.
I’ll try to be as honest as possible, but I’m sure I’ll forget important details, and I anticipate my apologies for it. I apologize also for my English, which is not that great too, as you’ll see.
The workshop was really interesting: everybody presented their own reserches about RJ, and I could listen and discuss about them all, which was very good to me: the discussion about RJ is very rich in all these countries, and it’s not that good to discover that, unfortunately, brazilian empirical surveys are not on the same level, and this could help us a lot in the hard work of exploring the problems of our broke criminal justice.
I can say, also, that it was a great honor to meet Nils Christie! He is a symbol of the abolicionism thinking to me since I was in the graduation studies, and I have no words to describe my happiness on meeting him personaly. I’ve met his wife too, Hedda Giertsen, who is also very caring and receptive. I could meet also Lode Walgrave and Ivo Aertsen, both from Leuven Institute of Criminology - Belgium, who are great references for me in the field of RJ (and Walgrave is coming to Porto Alegre-Brasil on 28th and 29th September!). I could mention many other participants, like John Blad (Erasmus University Rotterdam – The Netherlands), Yngvil Grøvdal (Norwegian Centre for Violence and Traumatic Stress Studies – Norway), Birger Poppel and Mariekathrine Poppel (University of Greenland), Bas van Stokkom (Radbound University - The Netherlands), Chris Powell (University of Southern Maine – USA), Joanna Shapland (University of Sheffield – England), Adem Tamo and Rasim Gjoka (Conflict Resolution and Reconciliation of Disputes Foundation - Albania), Monika Platek, Kacper Tomasz Gradon, Grzegorz Borek and Agnieszka Kloc (University of Warsaw – Poland) and Per Jørgen Ystehede (Department of Criminology and Sociology of Law, University of Oslo – Norway). I cannot mention all the participants, but this list is enough to show the great variety of researches was presented there.
Of course it’s not possible to keep in touch with everybody, but Lode Walgrave is coming to Porto Alegre in September, and Facebook enables the communication with my distant friend Agnieszka Kloc. Of course my wish is to see and listen all this people again, but the workshop was amazing: I’ve not only learned a lot with them, but I also met extraordinary people. Listening and knowing different views and cultures should be required to everybody who are in a PhD course: it enables the student to discover that our point of view is always limited, and that are many people all around the Globe studying the same subject, but with another way of thinking things and a completely different way of describing their point of view.
I really don’t know how to describe all the learning the workshop and the participants gave to me, because it’s not measurable or reportable, but it was a great academic moment to me.
Now, back to Porto Alegre and to PUCRS and to the PhD studies on Criminal Sciences, I’m always available to everyone who wants to discuss about RJ and all the other themes we are working on.
Best regards,
Daniel Achutti.
dachutti@terra.com.br

segunda-feira, 3 de agosto de 2009
terça-feira, 28 de julho de 2009
Diálogos I
- Bah, o teu carro novo aquele? Que merda, hein?!
- Pois é... recém tirei ele da concessionária, e me aparece um ladrão de merda pra roubar a bosta do estepe...
- E o que tu fez? Tá andando sem?
- Nah, comprei outro.
- Quanto tu pagou?
- 120 pila.
- Barbada!! Onde tu achou por esse preço?!
- Num anúncio que vi no jornal.
- 120 conto... barbada mesmo!! Onde fica a loja?
- Não sei, o cara mandou entregar lá em casa.
- Pior que deve ser ele mesmo que rouba, tá ligado?
- Aha...
sábado, 18 de julho de 2009
O Não-Lugar da Minha Vida IV

Para uma Amiga.
Apesar daquilo que nos contam, João e Maria nunca foram irmãos. Na verdade, sequer se conheciam, até que, num dia bastante esquisito, atraídos por um discurso fascinante que os conduziu para um mundo de fantasias, acabaram se encontrando: João, um pouco mais velho, falava bastante; Maria, mais nova que ele (e naturalmente mais inteligente), mais ouvia do que falava. Como uma luz que penetra a escuridão – ou como uma escuridão que penetra a luz – seus diálogos tomaram formas e proporções antes inimagináveis: apesar de não se conhecerem, uma harmonização de idéias e pensamentos foi mais forte do que eles, e ali, naquele momento, estava instituída a dúvida, a incerteza, a possibilidade de transgressão e, portanto, a beleza da vida: naquele instante, nasceram de novo.
Em meio a um mundo pleno de mentiras e de pura alucinação, na cauda da turbulenta situação em que se encontravam, houve então algo que lhes deu força para ir atrás do desconhecido, de uma possibilidade – mesmo que remota – de saída dessa virulenta armadilha sem solução em que se perceberam: acuados pela compressão do espaço e pela violência do tempo, pensaram que pouco poderiam fazer, mesmo que um desejo maior lhes esmagasse vertiginosamente. Uma única oportunidade de vida lhes era possível, e não a desperdiçaram: João nunca escondeu a sua intenção, mas foi Maria quem deu o passo decisivo. Porém, ao contrário do que imaginavam, sua tentativa não foi bem sucedida: ao passo que Maria temia pelo que não sabia (e pelo que sabia que estaria em jogo), João temia por coisas outras, e ambos tiveram suas expectativas roubadas pela imposição da velocidade em que viviam: ela, pelo insucesso da tentativa; ele, pela impossibilidade de ter agido de outra forma. Dalí em diante, deixaram-se consumir pelo discurso que se autoproclamava Salvador e que, naqueles primeiros momentos, mostrava-se mesmo fascinante, mas que, passado algum tempo, exibiu toda a sua perversão e a sua leviandade. Envolvidos pela facilidade da Razão e pela comodidade do Mesmo, optaram por ignorar o que jamais havia sido dito: era mais fácil assim, não havia motivo forte o suficiente para fazer-lhes agir de outro modo. Nem mesmo o amor que parecia surgir nas suas vidas parecia-lhes forte o bastante para enfrentar tudo aquilo que lhes era imposto. Como memórias desaparecidas, como histórias que não cansamos de escutar, como num sonho que não mais quer acabar, perceberam a ingenuidade da tentativa de vida e se deixaram engolir pelo fluxo acelerado da situação e deixaram de pensar em algo que, mesmo que remotamente, pudesse concretizar aquilo com que sempre sonharam: acomodados e conformados, seguiram seus diálogos, mas sempre a uma certa distância e precavidos para que nunca mais tentassem algo que não fosse oficialmente aceito, pois isso poderia lhes trazer sérios problemas – incluindo eventuais perseguições, como sempre acontece com quem ousa ser minimamente diferente.
Completamente sugados pelo tempo e pela igualdade, João e Maria seguiram suas vidas e, cada um à sua forma, viveram o que foram obrigados a viver. Nunca, porém, esqueceram daquele dia, em que ousaram concretizar os seus desejos, mas que, por pura falta de sensibilidade para o que ali havia de errado, acabou por nunca se concretizar. A não-percepção de tudo o que os envolveu fez com que cada um sentisse a situação apenas ao seu próprio modo, e foi justamente a ausência absoluta de comunicação – que, em princípio, era exatamente o ponto mais forte entre eles – que determinou, com toda a sua força temporal, a impossibilidade de concretização de seus sonhos.
Entretanto, sem o perceber, João e Maria foram condenados à pena perpétua de jamais conseguir deixar de sonhar...
quarta-feira, 15 de julho de 2009
sábado, 4 de julho de 2009
Josué e os Direitos Fundamentais (II): sobre a inexistência da memória.
Na minha leitura d’O Inumano, de Lyotard, penso que é um exercício inútil tentar pensar sem Ela. Mesmo debaixo de sóis escaldantes, em que tudo o que consegue permanecer é apenas a pena dos inconscientes e o resto inútil dos conscientes, Ela insiste: forte, nua, crua. Nenhuma consciência poderá ser capaz de descrever conscientemente a sua força, e menos ainda a sua fraqueza. Negar a sua pulsão é propriamente a derrota do reconhecimento: ao reconhecer, eu simplesmente não conheço, mas encontro a mim mesmo nesse algo ou alguém que não sou - e as minhas limitações, que deveriam ser expostas, restam encobertas, ficando eu comigo mesmo e toda a minha mediocridade. Ela é o tempo que dura, que vive: é a própria condição de vida, cuja existência antes me constitui do que me extermina. Nada mais do que intensa e pura persistência...
(continua)

sábado, 27 de junho de 2009
Josué e os Direitos Fundamentais (I)
O que a mim é difícil entender, hoje, é o discurso dos direitos fundamentais. Ok, não discordo que seja importantíssimo discuti-los, aprimorá-los, dar-lhes visibilidade, etc. Entretanto, desde que Bobbio falou que não era mais necessário fundamentá-los, mas protegê-los (ver “A Era dos Direitos”, p. 25), penso que, antes mesmo disso, uma outra questão lhes é anterior: alguma vez os direitos fundamentais foram, efetivamente, colocados em prática para que possam ser protegidos?
A resposta, penso, é negativa. E não é necessário ir muito longe para pensar profundamente sobre isso: basta ir até um presídio qualquer para constatar isso. Ou então, basta acompanhar o cotidiano dos moradores e meninos de rua de Porto Alegre, por exemplo. Os exemplos poderiam se estender por uma boa quantidade de linhas, mas acho que é desnecessário, tamanha a sua evidência.
Até aqui, nada de novo. Ninguém nasceu ontem. Nem o Sarney.
Continuo, portanto, a questionar: por que será que as pessoas pensam que os direitos fundamentais são (ou seriam) aplicados? A questão, aqui, pode facilmente ser reformulada: QUEM pensa que eles são (ou poderiam ser) aplicados? Os donos sagrados do pensamento ocidental, que, do alto de suas amorosas Declarações de direitos humanos, acham que eles realmente valem para alguma coisa? Os lunáticos acadêmicos, que, diante de ilustres espelhos, bolsas e perucas, não se cansam de responder alucinadamente que é justamente isso que fundamenta a democracia em que vivem? Ou seriam os atores jurídicos, que continuam a repetir, em decisões, pareceres e discursos, que devemos continuar a luta pelos direitos humanos?!
“Luta? Que luta?!”, perguntaria Josué, morador da Av. Ipiranga, esquina com a Vicente, s/n. Ponte não tem número. A luta dele é uma só: viver. Ou melhor: sobreviver. Se permitirem, ele até sobrevive. Não tem sido fácil. Pedir esmola na esquina não rende moedas ou drogas: rende surras. De quem? Perguntem a ele, e a resposta será exatamente essa que estão imaginando.
Alguém, contudo, nega essa “realidade”. Ao continuar a discussão açucarada dos direitos fundamentais como se eles efetivamente fossem observados, é negado justamente aquilo que os vencedores querem esconder: a exterminação humana do Holocausto continua, porém sob outros aspectos. Alguém ousa negar isso? Os lunáticos? Os donos do pensamento? Eles talvez. Josué não. Não há mais câmaras de gás, mas ainda há câmaras de gás; já não há mais campos de concentração, mas ainda há campos de concentração; já não há mais perseguição étnica, mas ainda há perseguição étnica; já não há mais busca por ordem pública, mas ainda há busca por ordem pública.
Não vou e nem pretendo comparar o Holocausto com o que vivemos. Não poderia fazer isso. Seria leviano demais. Josué talvez pudesse comparar. Eu, não.
Walter Benjamin, numa das sacadas mais perniciosas da história, lançou uma tese (a 3ª, sobre o conceito de História) que corta as raízes de qualquer direito fundamental e expõe os nervos (pra usar uma expressão do Timm) da estrutura racionalizada das nossas bondosas ciências:
O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história. Sem dúvida, somente a humanidade redimida poderá apropriar-se totalmente do seu passado. Isso quer dizer: somente para a humanidade redimida o passado é citável, em cada um dos seus momentos. Cada momento vivido transforma-se numa citation à l’ordre du jour — e esse dia é justamente o do juízo final.
Zygmunt Bauman, por sua vez, refere que “por trás da aliança resiste o moderno Estado ‘jardineiro’, que vê a sociedade sob seu comando como objeto de planejamento, cultivo e extirpação de ervas daninhas.” (in Modernidade e Holocausto, p. 31)
Extirpando aqueles que podem ser considerados “pequenos”, continuamos nosso discurso e nossa “luta diária” em prol dos direitos fundamentais. Vamos em frente, em busca de algo que ainda não foi encontrado, mas que, graças a nós – sábios, grandes, mestres e doutores – um dia será, e poderemos, enfim, dizer: “Enfim, eis aí o que tanto buscávamos.”
Nesse dia, enquanto alguns comemoram, outros estarão a relatar a batalha, reportar os detalhes, narrar os heróis e dar nome às homenagens. Estátuas, monumentos, troféus e boinas serão ofertadas; tratados serão redigidos; acordos serão celebrados; promessas serão formuladas; as dores serão reduzidas. Sempre e sempre, em nome de uma humanidade.
Nesse mesmo dia, Josué continuará a perguntar com quantos paus se faz uma canoa.
(continua)