segunda-feira, 12 de julho de 2010

Trecho de "Segredos e Truques da Pesquisa", de Howard S. Becker

"Mas, e se não descobrirmos diretamente que significados as pessoas realmente dão às coisas, e às atividades delas próprias e dos outros? Acaso iremos, num espasmo de ascetismo científico, nos abster rigorosamente de qualquer discussão sobre motivos, propósitos e intenções? É pouco provável. Não, ainda falaremos sobre esses significados, mas iremos, por uma necessidade nascida da ignorância, inventá-los, usando o conhecimento advindo de nossa experiência cotidiana (ou falta de experiência) para sustentar que as pessoas sobre as quais estamos escrevendo deviam ter em mente isso ou aquilo, ou não teriam feito o que fizeram. Mas é perigoso, é claro, especular sobre algo que poderia ser conhecido mais diretamente. O perigo é que imaginemos errado, que o que nos parece razoável não seja o que parecia razoável para elas. Corremos esse risco o tempo todo, em grande parte porque, como [Herbert] Blummer indicou, não somos aquelas pessoas e não vivemos nas circunstâncias delas. Tendemos portanto a tomar o caminho fácil, atribuindo às pessoas o que pensamos que nós mesmos sentiríamos no que compreendemos como a situação delas, assim como especialistas (muito provavelmente de meia-idade, muito provavelmente homens), ao estudar o comportamento de adolescentes, examinam as taxas comparativas de gravidez, e todos os seus correlatos, e concluem o que as jovens mulheres que tiveram esses bebês 'deviam estar' pensando ao se envolverem em tal enrascada. Na ausência de conhecimento real, nossas representações assumem o controle."

segunda-feira, 5 de julho de 2010