sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Quando faltam as palavras...

Ultimamente, em virtude das alterações no CPP e das aulas de Penal I (que sempre me tiram o sono), minha leituras estão voltadas apenas para os livros jurídicos.

E é incrível o que estou constatando: literalmente, estou me sentindo vazio, sem ter muito o que escrever. Reflexo disso é o tempo que levei pra escrever este post... Não que alguma vez eu tenha me sentido cheio de idéias mirabolantes e geniais, e que meus posts anteriores sejam lá grande coisa, não é isso: o que quero dizer é que muito pouco (ou quase nada) aprendo com os livros jurídicos!

Admito que o conhecimento das matérias cresce bastante e, quando percebo isso, acho bom, pois o ganho é significativo: aprendo mais pras minhas aulas e pra advocacia. No entanto, não aprendo quase nada em termos de vida. Aliás, aprendo que, cada vez mais, os livros jurídicos (notadamente os famigerados manuais) não têm muito o que dizer aos estudantes e leitores em geral. Limitam-se tão-somente a trazer aquela matéria na íntegra, do início ao fim, sem propiciar grandes possibilidades de reflexão ao sujeito...

A inevitabilidade de ler esses livros é evidente, e nem pretendo deixar de lê-los. Claro que não! Mas isso me mostra que realmente não podemos esperar muito de quem SÓ lê esse tipo de livro: como esperar uma grande decisão de um juiz que só conhece os manuais? Ou uma grande defesa, de um advogado que não tem conhecimento de mais nada além da "matéria em questão"? Ou qualquer outra atitude diferenciada por parte de qualquer ator jurídico que nunca leu nada além desses livros medíocres?! Agora compreendo porque ainda tem muita gente escrevendo dissertações e teses sobre "O agravo de instrumento no ordenamento jurídico brasileiro", ou "Da apelação criminal: limites e possibilidades"...

Não sei se estou certo ou errado: o que sei é que isso me incomoda, e acho que é motivo suficiente pra não permanecer somente nessas limitações manualescas.

Vale repetir o que escrevi num post anterior: "Me vê mais um antimanual, por favor?".


9 comentários:

Juriká disse...

Amigo, ando relendo "A Rosa do Povo", do Carlos Drummond de Andrade. Fica como bela indicação. Pela editora record, há um bonito prefácio do Afonso Romano de Sant'anna.

orontes pedro disse...

Achutti, tu falou tudo! A literatura jurídica (como um todo) é um lixo. E o pior é que estamos rodeados desse lixo o tempo todo: petições, pareceres, sentenças, manuais, cursos e, é claro, leis.

Muitas vezes me sinto mais burro depois de ler certas coisas. E o pior é que essas "certas coisas" são obrigatórias. Não há escapatória.

Para fechar: há uns 2 anos comentei com um amigo (que abandonou o Direito e foi para o Jornalismo) que o meu texto tinha se limitado muito depois de começar a ler e escrever juridiquês. Pensei em inaugurar o meu blog com esse assunto, mas - te juro - me faltaram as palavras...

disse...

No início do ano meu irmão pegou um livro jurídico da parte esquecida da minha estante. Folheou e disse: "não tem nada aqui".

12345 disse...

concordo com cada palavra.

antes de entrar na faculdade eu lia muito e sempre. agora leio escondido pros livros jurídicos não saberem o que eu estou fazendo... vai q eu perco a minha oab!

Ricardo Timm de Souza disse...

O nome disso é crise. A palavra é crise, mas não se encontram muitas delas na multidão de - palavras. Abração.

Moysés Neto disse...

Razão fria e opaca do direito; sem vida, sem tempo, corroída pelo cinismo e a passividade com o insuportável; repleta de fórmulas vagas e nulas, a serem preenchidas no estado de exceção instaurado em cada concreto; mera técnica, arrastando consigo apenas o quantitativo e repetitivo, calculista e maquínico.

O jurista do Manual é um autômato sem criatividade; nulo, vazio, medíocre, ignora o tempo e o outro, deita-se no seu berço esplêndido comprado com as benesses financeiras que recebe por permanecer na sua posição cômoda e delirante. Não dá. Para o lixo.

Anônimo disse...

Existem alguns livros juridicos que parecem FEITOS exclusivamente por pessoas obstinadas em ESCAPAR da chatice e da "opacidade" imanente ao estilo.

Como conversamos sexta, do Adauto Suannes e de mais alguns se tira alguma coisa. De resto..."MUNDO JURIDICO" e suas fantasias.

Juriká disse...

Mundo jurídico se assemelha ao HADES, grego. As pessoas não vivem, mas também não morrem... Como a cidade contaminada pela Peste, em Camus, cujas mortes não exigem luto.

Unknown disse...

Amigos: são lindas as advogadazinhas de terninho... Nem tudo é ruim no mundo jurídico.