quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O Não-Lugar da Minha Vida III

Quanto mais eu caminho,
mais parece que nunca vou chegar...
Mas quanto menos me movimento,
mais certeza tenho de que não posso parar...
A ilusão da certeza
não tem absolutamente NADA
para me dizer:
ela é tão-somente isso:
uma ilusão,
um mito,
uma impressão...

Uma falsa promessa de que estarei seguro
se me mantiver parado,
se me mantiver protegido,
se me mantiver afastado
daqueles que me questionam
sobre as minhas verdades
e sobre as minhas vontades -
de me afastar da hipocrisia
e da lamentável vidinha
do mesmo dia de hoje
que é o mesmo dia de ontem
e que será igual ao dia
de depois de amanhã...

Mesmo não estando sozinho,
sinto-me em plena solidão:
seja em razão dos meus ensejos,
seja por causa dos teus sorrisos,
seja pela falta dos nossos desejos...

Quanto mais próximo estou,
mais só parece-me que sou:
esse abismo que se me apresenta
essa figurativa barreira intransponível
para realização daqueles meus sonhos,
mais parece a guilhotina dos desesperados,
que sabem que a morte é certa,
mas não sabem o peso e o fio
da lâmina que lhes cortará a vida,
que lhes tirará o sono,
que os apagará da história,
e os levará para o silêncio e a melancolia
daqueles que nada mais são,
além de pura memória...

Daqueles cuja eternidade nos alerta
que o tempo se esvai
e se vai,
como quem não quer nada
como o nada que é...
Mas que,
apesar de nada ser,
tudo leva,
tudo corrói,
tudo esmaga,
e tudo destrói...

Não: não vou deixar o tempo
levar os meus desejos,
não vou deixá-lo dominar
aquilo que sou,
sem pelo menos torná-los verdadeiros,
sem tê-los como ponto de partida
de uma vida menos morta
de uma vida mais vivida
de um olhar mais atento
de um sorriso mais honesto
de uma incerteza muito grande
de uma vontade delirante,
de quem não quer atravessar
essa curta existência inteira
como quem tem medo de sentir dor,
que não tem dó
da beleza de uma flor,
ou que morre de amores
diante de uma só triste
e única cor...

Enquanto vivo estiver,
continuarei atrás dos meus desejos,
como forma 
de me manter vivo...
E de afastar o sentimento de perda
que me atormenta a passagem dos dias:
sem poder sentir o calor,
sem poder sentir o amor,
que sei que em ti encontrarei:
na intensidade intensa
de todos os teus recantos,
na angustiante angústia
de todos os teus encantos.

5 comentários:

Anônimo disse...

"Talvez o mundo
Não seja pequeno
Nem seja a vida
Um fato consumado
Quero inventar
O meu próprio pecado
Quero morrer
Do meu próprio veneno
Quero perder de vez
Tua cabeça
Minha cabeça
Perder teu juízo
Quero cheirar fumaça
De óleo diesel
Me embriagar
Até que alguém me esqueça"

Anônimo disse...

Muito bom texto e muito boa lembrança de música.

Anônimo disse...

Juriká disse...

Linda poesia, cara!!! Parabéns!! Cheia de cantos, recantos e encantos...

Anônimo disse...

"!"

(fato literario 2008)