domingo, 14 de dezembro de 2008

"Educação" superior?!

Difícil falar em “função” do ensino superior no Brasil: um país de miseráveis – não só economicamente – não pode ter apenas um parâmetro ou uma finalidade em termos de educação superior: é demasiado importante pensar em uma pluralidade de funções, no mínimo. Entretanto, o que se percebe é uma enorme proliferação de diplomas simbólicos, cujos resultados serão, no máximo, dois: o acúmulo de mofo ou o enquadramento para a posteridade. Se bem que um implica o outro, mas enfim...

A padronização e a infantilização do ensino superior atingem patamares inimagináveis: por meio de programas pré-definidos de conteúdos e de posturas didáticas que engessam o docente em uma estrutura educacional limitada, medíocre e totalitária (pois “única”), inviabilizam o poder criativo do próprio docente e, o que é MUITO pior, do aluno: como pensar diferente numa era em que tudo o que se transmite são idéias padronizadas? Como levar adiante o poder intelectual do estudante em uma atmosfera em que os “diferentes” são caçados como criminosos? Qual a possibilidade de transmitir ao estudante que ele deve pensar por conta própria, e não feito uma “marionete do pensamento alheio”, como refere Márcia Tiburi?!

Notadamente na esfera das ciências criminais, uma "pasteurização" jurídica é levada a efeito: munidos de manuais-dicionarescos, os professores são enjaulados pelo discurso concursista, e se vêem “presos” nas engrenagens da propagação de uma “cultura salarial”: não me importa mais o meu desejo, mas apenas o meu futuro salário. Ou, talvez, uma “vontade de salário”, pra não dizer que não é possível desejar um salário – muito embora o problema não seja bem esse... o que há por trás disso é, antes ainda, a mediocridade de uma vida destinada a foder com a vida dos outros, enquanto que a minha vai bem, obrigado, pois tenho o meu salário, a "minha mulher" (se referir à namorada ou esposa como “MINHA mulher” é simplesmente lamentável!) e os meus filhos, felizes, faceiros, trálálá...

Talvez devêssemos recuperar aquela idéia do Collège de France, em que os professores são obrigados a, todo ano, expor uma pesquisa original – o que os obriga sempre a renovar o conteúdo do seu ensino. Leiam a “Advertência” de “Os Anormais”, do Foucault (editora Martins Fontes), que vocês saberão melhor do que estou falando... para podermos pensar adiante, hoje, imprescindível abandonar essa prática patética dos cursos huxleyanamente pré-programados, economicamente orientados e mediocremente preparados: ao invés da putaria da “matéria mastigada na boca do aluno”, devemos mesmo é vomitar o lixo da humanidade na frente de todos e expor o ‘lado obscuro de nós mesmos’ (Roudinesco) e mostrar que todos estamos no mesmo barco, que ninguém é super-homem, e que a qualquer instante podemos sucumbir a essa merda toda que nos circunda e faz feder quaisquer das nossas idéias...

Antes, creio, é preciso apresentar as possibilidades – e não as mesmices de sempre, as porcarias de eternamente, o conteúdo petrificado, o significado embalsamado: apresentar as saídas – e não as entradas – pode ser, talvez, o principal papel do professor de ensino superior hoje no Brasil, a fim de evitar a eternização do conhecimento e a manutenção do genocídio legítimo em que estamos inseridos...

7 comentários:

Unknown disse...

O pior de tudo é quando esta mediocridade (docente e discente, porque não há inocentes nesta história) chega nos programas de pós-graduação...

Anônimo disse...

De fato, nao existem inocentes.

O mundo tem mais CATEDRAULICOS do que imaginamos...

E o pior esta no fato de que nas Ciencias Criminais, a pasteurizacao BRINCA - no fim das contas - com a mais grave de TODAS as questoes (juridicas?).

Nao surpreende que tanta gente pense que 'pessoas=lixo' hoje em dia. Como se os "cases" standards nao se referissem a PESSOAS reais.

Juriká disse...

Não há saída. O pensamento é uma vergonha! A vida é o outro da escolarização acadêmica!

CAPES, CNPq, Lattes (o Orkut dos metidos a intelectuais), Jurisprudência, tudo é a mesma bosta! Ou, como teus marcadores, a mesma mediocridade, a mesma merda, a mesma putaria!

Anônimo disse...

Teria como ser diferente se aeducação "infra" é só o começo da putaria superior?

Não duvido q a preparação pro vestibular esteja começando no jardim de infância...

Unknown disse...

ou no jardim de infância já estejamos nos preparando para a prova da ordem ou para a banca de doutoramento...

Moysés Neto disse...

"o que há por trás disso é, antes ainda, a mediocridade de uma vida destinada a foder com a vida dos outros, enquanto que a minha vai bem, obrigado, pois tenho o meu salário, a "minha mulher" (se referir à namorada ou esposa como “MINHA mulher” é simplesmente lamentável!) e os meus filhos, felizes, faceiros, trálálá..."

Genial.

Unknown disse...

POIS É, ACABEI DE ENVIAR OS "DADOS" PARA O DATACAPES, POIS TEMOS QUE MANTER A NOSSA NOTA, OU AUMENTÁ-LA. ESSA FORMA DE AVALIAÇÃO QUANTITATIVA É MUITO BIZARRA. TALVEZ QUALQUER TENTATIVA DE AVALIAÇÃO SEJA BIZARRA. UM MESTRADO COM 40 ALUNOS É FODA TAMBÉM.