sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ficção?! - notas sobre educação (I)




O que mais me impressiona no Pink Floyd é a atualidade das questões apresentadas em algumas músicas e clips. Claro que, neste momento, falo apenas dessa música, mas poderia falar de muitas outras com tranquilidade.
A aversão à poesia (não-ciência), a necessidade professoral de manter o uniforme impecável (engravatadamente, claro), o rigor em sala de aula, dentre outras características possíveis, apontam para um modo de educar que ainda predomina a mente de muitos educadores: a imagem é tudo, o que não for científico não tem validade, a arte é apenas arte (e, portanto, não pode ter valor científico) e se não formos extremamente rigorosos, provavelmente perderemos o controle da turma e a "proposta pedagógica" terá ido por água abaixo.
Arte não é ciência; alunos são só alunos; o professor é o único capaz de pensar e, portanto, deve professar a verdade; e a manutenção desse ciclo é uma obrigação. Do contrário, e perderemos o controle.
Sempre ele: o controle. A pretensão de dizer a verdade professa, talvez, o nosso maior temor: o de que podemos estar não mais a dizer a verdade, mas apenas a repetir aquilo que ouvimos anos atrás sem sequer questionar o monte de baboseira que ouvimos. Seguidamente escutamos em universidades afora: "está cada vez mais difícil: ou somos mais rigorosos, ou perderemos o controle da turma."
O mais engraçado, no entanto, é que todas as vezes - e vale frisar aqui a palavra todas - em que uma crise se apresenta em sala de aula, a única solução possível é o aumento do rigor - desde 1910! Ou antes, claro, mas usei essa data simbólica apenas para mostrar que há pelo menos UM SÉCULO que o papo é sempre o mesmo: ou a educação será viável por meio do rigor, ou dificilmente será possível.
Traduzindo: ou impomos medo nos alunos, ou nada alcançaremos.
Recuso-me a trabalhar com um instrumento como o medo. Pago o preço de aprovar alunos e alunas que sequer entendem o que falo, mas não o utilizarei como instrumento pedagógico.
Não sou o melhor educador do mundo, mas sei que dessa forma não formarei pessoas, mas idiotas. Não contem comigo para isso.

5 comentários:

G.D. disse...

RIGOR, RIGOR, RIGOR...sempre o mesmo papo.

Como se na epoca d'"O ATENEU" nao existissem os alunos bons e mediocres, interessados e dispersos, com facilidade e com dificuldade...

O Ferrajoli fala do direito como meio de CONTRAPOR a barbarie de tempos imemoriais e/ou o policialismo.

Cada vez mais acho que seria inversa a logica (e vale para o Direito Penal, a Educacao, etc...):

as pessoas tem SAUDADES de um autoritarismo que nunca conheceram e um AMOR PLATONICO por um estado de policia que nunca existiu na integra.

Como diz o nome de um belo (e piegas) filme:

"NUNCA TE VI, SEMPRE TE AMEI".

Moysés Neto disse...

Pois é, acho que o rigor tem que ser diferenciado do medo a partir de um consenso ético com os alunos em que haja compromisso entre ensinar e aprender.

A prática, no entanto, não raro é decepcionante.

Titi disse...

É ISSO ACHUTTI ME IDENTIFIQUEI COM A TUA IRRESIGNAÇÃO AO MÉTODO IMPOR O MEDO AOS ALUNOS.
É UMA MERDA E ACABA DESQUALIFICANDO TODO O ESFORÇO EM ESTABELECER O MINIMO DIALOGO. TAMBÉM SOFRO COM O FATO DE NÃO ASSUMIR O PAPEL DE CAPATAZ ATRIBUIDO PELAS NOSSAS UNIVERSIDADES.
TIPO PERMITEM QUE TODOS QUE POSSAM PAGAR ENTREM, E DEPOIS ATRIBUEM O TRABALHO SUJO PARA NÓS. NOS CONFEREM O DIREITO A TORTURA, O SADISMO, O AUTORITARISMO E A HUMILHAÇÃO.
É ISSO TÔ FORA DOS RIGORISMOS... DEIXEM PARA QUE TEM PRAZER NISSO.
BEIJÃO.
TITI

Clarissa de Baumont disse...

pior é que não apenas onde entra quem pode pagar é assim, é uma postura tão consolidade que não me lembro de ter encontrado muitos professores que a superassem...(e vejam, também não muitos alunos, a submissão voluntária existe...)

o motivo mais forte e quase despercebido para a exisência profícua de uma universidade são as trocas indispensáveis ao crescimento, as interações, discussões entre interpretações diferentes, relacionamento interpessoal, o que faz com que valha a pena alguém não estudar por si mesmo e, por isso, a educação bilateral se torna quase nula...talvez seja mais válido o professor ser visto como um orientador que como um ser superior e incontestável...

pode parecer pretensioso mas nem mesmo uma criança é exatamente um aluno do modo como se pensa tal conceito.

Violeta disse...

O uso do MEDO... coibir, repreender sem estimular o debate, a discussão, a interpretação...

Infelizmente, posso dizer isso na condição de estudante, que vivemos no contexto universitário em que a maioria dos alunos fingem que aprendem, dissimulam esse "aprender" para os professores e estes, acabam por acreditar que realmente ensinam!

"Não sou o melhor educador do mundo, mas sei que dessa forma não formarei pessoas, mas idiotas. Não contem comigo para isso."
És um ótimo professor, porque dentre tantos motivos, consegue fazer com que até mesmo aquele aluno que afirma não suportar o estudo do Direito Penal, começar a pensar, refletir e olhar com outros olhos...