sábado, 14 de fevereiro de 2009

Família unida pela droga

Fonte: Terra

14/02/2009 01:20:00


Família unida pela droga

Preso pela Polícia Federal, acusado de tráfico incentiva filho de 13 anos a fumar maconha com ele

por Maria Mazzei e Thiago Prado

Rio - Fumar maconha em casa, na frente da família, era uma prática habitual entre os integrantes das quadrilhas de tráfico internacional de drogas sintéticas, desarticuladas pela Polícia Federal (PF) na quarta-feira. Uma escuta telefônica feita com autorização judicial mostra que um dos 55 presos aceita com naturalidade o uso da droga pelo filho de 13 anos. Na quinta-feira, o publicitário Paulo de Tarso Forni, pai de Henrique Dornelles Forni, o Greg, 25 — transferido ontem para o presídio de Bangu 1 — revelou comportamento semelhante com relação à substância proibida: ele admitiu que o filho fumava, pelo menos, seis cigarros de maconha por dia dentro de casa, com o seu apoio.

Além de não reprimir o filho de 13 anos, a escuta mostra que o preso ainda o incentiva a fumar na presença dele ou da mãe. O acusado, que morava em Cáceres, no Mato Grosso, dá a entender que na família usam maconha ele, a mulher, a criança e até a avó. Segundo o relatório da Operação Trilha Albis, o preso era um dos fornecedores de parte da cocaína para a quadrilha.

Ontem, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, comentou a autorização dada por pais para filhos consumirem drogas. Ele considera o caso importante para que o País comece a debater a questão da leis sobre o uso de drogas: “É um tema importante. Acho que o primeiro passo que temos que fazer é reavaliar a legislação brasileira. Temos que trazer essa questão para o âmbito da saúde pública. Temos que ter capacidade de atender as pessoas que são usuárias e querem parar de usar a droga. Está provado que só a repressão não funciona. Gasta-se muito dinheiro, prende-se muita gente e o consumo está no mesmo nível no mundo inteiro”, disse.

Ontem, a Justiça Federal determinou que Greg seja colocado sob o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) ao lado de mais quatro presos nas operações, em Bangu 1. Os cinco terão que ficar isolados em uma cela, com banho de sol restrito.

GRAVAÇÃO

Um dos presos nas operações da Polícia Federal conversa com o filho de 13 anos, que revela ter usado maconha junto com a mãe. Além de não reprimir a conduta do menino, o pai ainda recomenda que, da próxima vez, a criança fume junto com ele.

Filho: Eu fui lá fumar maconha com a minha mãe.
Pai: (risos) Ah, pára velho!
Filho: Eu tô doidão.
Pai: Tô sabendo. Depois eu vou falar com a sua mãe.
Filho: Eu falei: se eu não for lá com você, eu vou experimentar com outra gente.
Pai: Não, tá certo.
Filho: Ela disse que se for pra fumar maconha, pra fumar com ela.
Pai: É, ou então comigo.
Filho: Tem um negocinho de maconha aqui em casa.
Pai: (risos) É da tua avó.

5 comentários:

Anônimo disse...

Em uma Sala de Audiencias qualquer, um estagiario MOTIVA decisum em tarde solitaria de chimarrao e CLub Social:

"...ele parece nao ter adaptacao com regras porque indicios trazidos aos autos dao conta de que sempre viveu em uma FAMILIA DESESTRUTURADA..."

Esses me parecem BEM ESTRUTURADOS.

E agora, Jose?, deve estar pensando LASIER: qual explicacao facil temos para ISSO?

disse...

José acha que a socialidade canábica estimula o convívio familiar. Um amigo sem a menor noção do que é o tal do labelling e da virada criminológica (mas com alta noção de autogestão no consumo de droga) uma vez me disse: não é o viciado que se afasta da família, é a família que afasta o viciado. Imagina o quanto a família brasileira ia ganhar em proximidade com a galera toda fumando um baura antes daqueles aniversários chatíssimos da tia-avó de Hermenegildo. Brasileiro não desiste nunca: MOVIMENTO LARICA DE INTEGRACAO FAMILIAR.

Anônimo disse...

Muito boa postagem Achutti.
O ministro da saúde mandou muito bem. Realmente uma bela atitude em nome de um governo que ainda gostaria de ser conhecido como "de esquerda".
"Certamente é muito mais SEGURO fumar em casa do que na RUA, meu filho" - diria a mãe de uma família (des)estruturada.
Concordo com o que o Zé comentou: isso é labelling. E é, paradoxalmente, a demonstração de que a virada paradigmática ainda é meramente teórica.

Unknown disse...

JÁ FUMEI COM PAPAI

Moysés Neto disse...

Pensamento pós-moralina.