domingo, 28 de setembro de 2008

O Discreto Charme da Burguesia


MUNCH, Edvard. Evening on Karl Johann Street (1892)

domingo, 21 de setembro de 2008

O Lugar da Docência: há luz no fim do túnel!

E-mail enviado por uma aluna:

"estava lendo os artigos que me passou...
consegui te entender melhor com relação à justiça-'nissim miojo' e o teu medo quanto ao riscos de um direito penal juvenil... eu ouvia falar desse projeto da justiça instantânea, mas na real nunca tinha parado para pensar o que era isso...
enquanto lia os artigos, lembrei do livro do Bauman... o direito, como todo o resto, está sendo diretamente atingido por essa liquidez das novas relações... e pelos trechos do discurso do juiz, dá pra perceber como todos os reais objetivos são revestidos da idéia de que o projeto visa o 'bem do adolescente', quando na verdade busca a 'segurança jurídica' e a tentativa (que infelizmente é aceita) de relacionar justiça de qualidade com rapidez e quantidade...
e daí me responde Daniel, como que o dito senso comum não vai acabar acreditando que a rapidez nos procedimentos e julgamentos (e que quanto mais condenações melhor) não está relacionada com justiça, se essa é a idéia que os próprios 'operadores do direito' passam e defendem...?
É foda neh... daí a gente fica com cara de pato (aquela que eu não gosto nem um pouco) quando tenta defender outra coisa...mas eu não desisto...mas fico um pouco cansada...
e o 'depoimento sem dano' que deveria ter como fim aliviar a revitimização é na verdade uma ilusão para afastar o 'nosso' dano, fazendo de conta que somos bonzinhos....
como se fosse tão fácil assim lidar com os sentimentos das pessoas e definir o seu dano e de forma mágica 'deletá-lo'... afinal, se o computador em um simples toque consegue deletar qualquer coisa, como que o magnífico ser humano (que criou toda essa tecnologia) não conseguiria fazer isso também né...

como o ser humano é pretencioso né..."

Esse é o tipo de coisa que me impede de desistir e me faz insistir na docência...

domingo, 7 de setembro de 2008

O Medo

"Em verdade temos medo.
Nascemos no escuro.
As existências são poucas;
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
Vadeamos.

Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
Este célebre sentimento,
E o amor faltou: chovia,
Ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
Nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,
Meu companheiro moreno.
De nos, de vós, e de tudo.
Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses.
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?

Vem, harmonia do medo,
Vem ó terror das estradas,
Susto na noite, receio
De águas poluídas. Muletas

do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.

Faremos casas de medo,
Duros tijolos de medo,
Medrosos caules, repuxos,
Ruas só de medo, e calma.

E com asas de prudência
Com resplendores covardes,
Atingiremos o cimo
De nossa cauta subida.

O medo com sua física,
Tanto produz: carcereiros,
Edifícios, escritores,
Este poema; outras vidas.

Tenhamos o maior pavor.
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.

Adeus: vamos para a frente,
Recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,

eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
Dançando o baile do medo."

Carlos Drummond de Andrade

In: A rosa do povo. 39ª ed. Record: RJ/SP, 2008, p. 35-37.